Castelo

Eu gosto de dormir
Dizem que eu sonho muito
E me perco percorrendo meu próprio castelo
A intuição quer me jogar no mundo
Mas a inspiração foge quando desperto

Eu não falei seu nome
Só quis ver o horizonte
Saber até onde me ilumina o afeto
Mas a recordação é areia desmoronando
Deserto em que some o que foi descoberto

Tamborém

Feche os olhos e veja
Seu coração é um tambor
O surdo de marcação da bateria da vida
Incansável como quem o sustenta na avenida
Seu ritmo dita a sensação de todas as horas
Até que, um dia, chega ao fim nossa estória 
Será que dança conforme a música?
Ou seria ela a súdita de sua grave sinfonia?
É aterrorizante pensar que ele nunca para,
Pois, como o tempo, seu valor não se repara
Nem se compara a quando o coração vai além,
Pois é o tambor, mas só quer ser um também.

Ao arauto

Quero um poema de agradecimento
Poder cantar alto os versos
Ser arauto como um camelô
Desfrutar de cada sílaba 
Fazer amor com as proparoxítonas,
Tão coerentemente acentuadas,
Quero perder o fôlego 
Ver pirâmides nas páginas 
Orgulhar o pastor que me guarda
Das minhas alucinações 
Os pensamentos mais oblíquos 
Quisera interditar a linguagem, mas
Quem sou eu?
Fui aluno, ser sem luz 
Iluminaram-me
Minaram em mim a ilusão 
Implodidas as certezas
Restaram ideias tortas
Obrigado, Motta
Seja, meu irmão.