Lâmina

Rente a lâmina da água do longo lago, 
Arremessada para o outro lado voa 
Superando a gravidade uma pedrinha, 
Onde sabiamente não mergulha à toa. 

Moveu-me a esta questão que indago: 
É possível não se molhar sem ter canoa? 
Reverberar as ondas enquanto caminha 
Gabando-se pois ao raso não se afeiçoa.

Uma vez na margem oposta vem o estrago 
Lembrando da trajetória muito lhe magoa 
Haver sido impermeável e tão logo sozinha 
Obstante ser rocha, diz-se uma pedrinha boa

Solo

Despeço-me agora com grande pesar
Engendrando um esforço desmedido
Seguido do tremor do choro contido 
Precavendo mais terras não arrasar

Envelheço mais e mais ao provocar
Demasiada dor em coração querido
Irresponsavelmente não preterido
Na hora em que se podia amenizar

De certo terei de sempre ser sem par
O meu peito infértil qual um bandido 
Saqueia o amor de quem destemido
Enxerga nele um solo bom de cultivar