Ser rapino

Quando você aportou nessa praia
Miragem
Paisagem de beduíno

Meu coração levitou fez até
Homenagem
Coragem de dançarino

a areia espalhou toda sua beleza
fez, no céu, o sol mais uma presa
seu biquini furta-cor foi então a represa
do oceano de amor que não tem sutileza

Se você me conceder salvo-conduto
Serei astuto com o usofruto
Mas se julgar da minha parte muito abuso
Sou arguto, nem diz que eu mudo

Sei como compositor sou mero
Personagem
À margem do que é divino

Foi o mar que salgou esse corpo
Selvagem
Plumagem de ser rapino

Senão

Outra vez eu navego à deriva
e o verso não sei onde anda
Papo de intelecto não rola
É tédio que a perna não bamba

No boteco atesto
Um sofismo honesto
A intenção mais malandra
Dessa vez eu só quero um mas
Um reverso senão pro meu samba

Peço uma abrideira
De educada maneira
Minha elegância é britânica
O suburbano, um lord
Que tem como dote
Simpatia orgânica
Papo de futebol
É minhoca no anzol
Que pra briga descamba
Dessa vez eu só quero um mas
Um reverso senão pro meu samba

O frango à passarinho
Quando vem bem sequinho
Não tem nenhum concorrente
Nem o de bacalhau
Vindo de Portugal
e seu azeite entrementes
Combina mais com a cerveja
que vem na bandeja
Do garçom, a mão santa
Dessa vez eu só quero um mas
Um reverso senão pro meu samba

Carnaval em abril

São Jorge vai na frente
Tiradentes já passou
Ontem foi feriado
Chama que se apagou
Amanhã será luzente
O presente, caprichado
Tem um brilho diferente
Transcende o que sou
Ou o que tenha alcançado

Entre o herói e o santo
A forca e a espada
Há o nascimento
Da estrela alumiada
Cuja visão eu canto
Pelo amor me alento
Ao custurar seu manto
Que torna mais desejada
Quem não é mero momento

Sua paixão pudera
veio a seu encontro
Como ninguem já viu
O mundo ficou tonto
Tudo parou na Terra
Deixou saudades mil
Tristeza não prospera
Então, desse confronto
Fez-se Carnaval em abril

Moças na calçada

Como é lindo o caminhar
dessas moças na calçada
Como é meigo o sussurrar
que suas conversas tem
Cada andar relembra o passo
o entrelaço de uma amada
que das antigas namoradas
toda memória retém

Umas saem ao trabalho
como é dura essa jornada
Outras sem saber de nada
fazer compras vão além
do limite tão estreito
entre os filhos e a morada
Para a língua afiada
desse povo dão desdém 

Lousa e giz

De repente eu já não sei mais
se canto ou escrevo
Pois se for mais audaz
o controle eu perco

Na sala abafada que nos diz
Que lá fora o dia se desfaz
Minha musa,
O tesão que é lousa e giz
Nao é mero suor de outros casais  
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O teu corpo trêmulo,
meu pêndulo, me leva à distância
Faz curva e dá tanto nó
Quem é dama na dança?

Então sou poeta outra vez
E essa paixão faz transbordar
A luz que em meu peito se refez
Depois de encontrar quem soube amar
(2x)

Referências

Você não se chama beatriz
Mas no sétimo andar me faz feliz
Eu não sou Newton, mas me diz
Seu sorriso é minha força motriz
(2x)

O seu jeito atrapalhado de seduzir
me tirou da matrix
Foi o código criptografado
dos seus quadris
Esse olhar raio-x
Que penetrou num peito fechado e tão infeliz

Você não se chama beatriz
Mas no sétimo andar me faz feliz
Eu não sou Newton, mas me diz
Seu sorriso é minha força motriz
(2x)

Eu que estava acostumado a esse mundo
que o Bauman maldiz
o amor em líquido estado
de chafariz
que não cria raiz
Me derreti como os relógios de Dali

Você não se chama beatriz
Mas no sétimo andar me faz feliz
Eu não sou Newton, mas me diz
Seu sorriso é minha força motriz
(2x)