Divã

Beldade conquistou mais um fã
Regalado pela forma em harmonia
Encantou-se também pois tão sã
Não cativara apenas pela alegoria

Descrente, ele prosseguiu seu afã
Aventurar-se nesse rio de poesia
Com papel e lápis, nosso titã
Aportou aonde não imaginaria

Receoso que aquela beleza vilã 
Viesse nele despertar tal agonia
Advertiu-se de imaginá-la ala islã.

Louvado, embora não fosse galã
Hospedou-a com imensa alegria
Ouvindo a diva em seu divã

Ministério da solidão

Morando nessas cidades tão lotadas,
Invisível pensa ser quem cuja ausência  
Não desperta furor nem é questionada
Insensível gira o mundo sem anuência 

Solitário chega o homem e lhe agrada
Tornar ver o bicho cuja a quintessência 
É amar o dono e ansiar sua chegada
Reconfortando-o sem julgar aparência 

Isolar-se vai o artista em sua jornada
Onde sua inspiração tome cadência 
De poder tocar outros quando entoada
Adulando o ego e matando a carência 

Satisfeito, pois com a alma apaziguada 
Observa o mundo com outras referências
Livre da necessidade do olhar da amada
Imerge-se na tranquilidade da demência 

Diante de tais circunstâncias foi criada
a pasta. Para quem só pede clemência:
O ministério da solidão será a morada.

Match

Com trilha sonora de filme de romance, 
O seu roteiro ensaia o mesmo final 
Liturgicamente feito para que avance 
Estimulando o que mais é  visceral

Com típicos carros de filme de ação, 
Íntima atmosfera longe do caos exterior,
O ambiente vai dissolvendo o não
Normalizado por quem tem pudor

Assistindo a esse filme de suspense
Distraído, o espectador até que desperte.
O mundo inverte-se para que então pense:
“Reconheci o colecionador de matches”

Sumira

Falando a um amigo sobre como me divertira
Ele me disse o quanto tudo aquilo iria mudar: 
“Recôndito à passagem dos ciclos, o balé lunar
nodula tatuagens invisíveis a quem nos mira”

Apreensivo pelo conselho que a paz sacudira
Neguei. Habituais prazeres não iria abandonar!
“Deixe de tolice, o que hoje é o conforto do lar
Amanhã incomoda até a visão e desperta a ira”

Insolente ignorei  o que a mensagem prevenira
Não ligando para o risco de amizades misturar,
Assisti à colorida fazer a de fato se opacar

Confuso é lembrar da amizade que sumira
Invés do amigo mais que perfeito abraçar 
Olho o pretérito mais que perfeito no lugar