Densa poeira

Densa poeira de motor e buzina
Que arranha minha garganta
E me tira o que é abstrato.
Muro coberto de concertina
Pra manter fora o pilantra,
Dentro da ratoeira, o rato.
Falta dor para morfina,
Insensibilidade espanta
A emoção do contato.
Aqui, atrás das cortinas,
Quero as folhas da planta,
Mas só resta o vaso.
Noutro tempo, purpurina
Foi de alegria a manta
A amante do tato.
Quando a luz da retina
Nas ladeiras de Santa
Era o suor do desacato.