Fim de ano

Às vezes eu fico me perguntando se só acontece comigo
isso: de revirar os planos quando chega o fim do ano.
Como num golpe de estado, a mudar as regras prossigo
cauteloso, pois se mal planejo eu mesmo me engano.

É mais fácil legislar quando não se é o executivo
E no meu caso, devo dizer: ainda sou o judiciário.
Não estou reclamando de tanto trabalho!
Essa é a sorte de quem se mantém vivo.

Porém quando durante dias se obedece a terceiros
Menos inclinado fica alguém a ser tirano consigo
Aí está o ciclo vindo do instinto de auto preservação
Que me faz abrir uma gelada e largar o estudo de mão.

Leis

Eis a primeira lei: os homens sempre voltam.
Ao ouví-la muitas pessoas ficam indignadas
Alegando ser um absurdo tal afirmação
Porém o tempo prova que estão erradas.

Pois na ciência dos relacionamentos
O orgulho masculino é bastante inerte
Fica parado mas pode mover montanhas
e quebrar cadeados com seus sentimentos

A segunda: as mulheres quase sempre perdoam.
Então se dirá: em se tratando de leis não há 'quases'
Mas nem legislador ou físico se atreveria a incluir
sua interlocutora num balaio que generalize as fases.

Que fases? As que levam a decisões insensatas
Nas quais, só não vê o óbvio aquele que, arrastado
como o mar pela maré, crê poder chegar a nado
ao astro que eclipsa o sonho e se ilumina da fé.

Mas nem tudo está perdido, pois a terceira ensina:
Não há tratado que verse sobre balanças emocionais.
Resultante diferente de zero e cada um com sua sina.

Giseles

Garotas desconfiadas ficam sempre com um pé atrás
Inquietas a espreita do momento que irão desiludir-se
Só ignoram o perigo que há em quem fala a verdade,
Esquecem da coragem que esses olhos dão ao rapaz.

Leem em cada gesto um indício de uma contradição
Evidencias claras que ali há mais um mau partido
Seguras de partirem sem seus corações partidos.

Com a licença de Dumont

Perguntei a um sábio que horas eram
Ele não soube me responder de imediato
Disse-me: " Com a licença de Dumont,
Relógio de pulso já me parece insensato."

"Demiti esse que faz todos de empregado

Para que o tempo me sirva, não o contrário."
Eu já ia procurar quem soubesse o horário
Pois para essa sabedoria estava atrasado.

Vi uma bela moça com o relógio no braço

Mas passou tão depressa que não pude
perguntar-lhe nem mesmo seu nome
Tampouco diminuir meu embaraço.

Debaixo daquele mormaço, ainda ouvi:

"Esqueça a hora e vá no seu tempo."
Emburrado à voz não estive atento
Lamento, pois demorei mas aprendi

Cortiço flutuante

Conviver em ambientes cuja saída é limitada
Ocasiona certos problemas da arte de viver
Respeitar o espaço do outro não é consenso
Tanto que as desavenças começam a aparecer

Indubitável a justiça feita pela administração do barco

Concedendo tratamento condizente à postura adotada
ostensivamente pelos passageiros, que agem tal animais:
ficam quietos com o dono, mas dão entre si patadas.

Lotada a embarcação, há então diversos personagens

Uns introspectivos que se poe a observar toda gente
Tem outros que de tão bons de conversa é preciso
um olho no peixe outro no gato para não ser inocente.

Ainda com esses percausos a viagem valhe a pena

Nas horas em que o conforto se restringe e a calma
torna-se uma religiosa virtude, somos postos a
entender a importância da simplicidade da alma.

Olha já

Redescobrir-se nas entranhas do Brasil
Indo morar em sua principal veia
Oferece ao viajante tempo e paz na
Aorta amazônica que é da selva, a seiva

Manacapuru tem carapanãs e outros insetos
Além disso, pode quem fotografar onças
Zombar de quem diz ter visto anacondas
Ondulando nas águas da noite em lua

Normal é ver os botos, esses golfinhos rotos
Animando a viagem dos que não sendo daqui
Satisfeitos se rendem a rir e a aplaudir

Latitude zero

Lá onde o sol chega tão próximo
Iluminado nossas linhas imaginárias
Nota-se no úmido calor da terra
Haver o furor de histórias legendárias

Ainda que tímida desponte a luz
do sol, quado amanhece por entre
os muros da Fortaleza de São José,
Empata logo o dia com quando não é

Quem de lá se ausenta leva consigo
Uma vontade de comer açaí, que: Égua!
A saudade é daquelas que não dão trégua

Do Amazonas que é um castanho mar
O mundo chega e vai para lá
Recordando com prazer, Macapá

Que Maravilha

Fui a um lugar onde conheci
Risos largos de gente sincera
Em imediata empatia dos
Caminhos cruzados à vera

Houve estudo é bem verdade
E a esse pretexto fizemos mala
Indo maravilharmo-nos pelas
Riquezas obtidas fora de sala

Incrível realmente é o que
Nos instantes finais nos supera
Haja mulher para fazer um bem
Assim como essa menina fizera

Guardou a fé

A diferença entre os destinos das pessoas
Mais se faz pelo que cada um renuncia.
Afinal, todos escolhem pelo melhor, mas
nem sempre atentam ao que o ato anuncia.

Dos atentos, há quem encontre entraves
Atrasando seus planos e abalando sua fé
Muitos a essa altura desistem do sonho
Enguiçados, negam-se a fazer o trajeto a pé

Deixemos estes. Há quem guarde o brilho
insistente das longas horas em que se labuta,
cansando Deus que: enfim presenteia seu filho.

Ilumina com seu triunfo o jardim dos valores
Não deixando que em nós morra a certeza de
acreditar que a esperança suplantará as dores.

A moça e a caixa

Mercadorias vem de distantes lugares
Andam léguas e léguas até seus destinos
Da Ásia vem coisas de plásticos e similares
Europa e Chile mandam vinhos distintos

Interessada em uma melhor mercadoria
Navegou na internet no intuito de buscar
Talvez um objeto que lhe trouxesse alegria
Investindo um tempo que não iria lhe custar

Na sua casa em dezembro chegou uma caixa
Deparou-se, ao abrí-la, com tamanho prazer
E quis saber de onde viera, então leu a faixa
Relendo estranhou o que via: made in tinder.

Impostos

Começar a fazer um curso no Senac
Pode te ensinar o poder da oratória
Mas nem mesmo os vídeos da internet
Fazem mudar certas questões na vida

Ir à frente do espelho para conversar
Pode transformar o mundo e a ti
Vira até peça inspirada em Beethoven
Através ou além como João Nogueira

Impedir que o ego dialogue com o id
Cerra a loucura e a desilusão em si
Mas quem o amor declara à Receita
Sabe, não há restituição destes impostos

Oásis

Um vestido azul sanfonado
Óculos redondos dourados
O oásis da composição 

Unhas brancas como neve
Patuás para quem se atreve
Fazer dela sua inspiração
 
Do nada puxa uma guia
E a tatuagem quem espia
Só pode exergar um quinhão 

Na verdade um japamala
Difícil de supor como a fala
Simpática que vi no vagão 

Poesia é mostrar apenas
Metade de um poema
E seguir noutra direção

Av. Nossa Senhora

Aconteceu hoje cedo, vou lhe contar
Veja as surpresas que a segunda reserva
Nos rincões da cidade maravilhosa
O princípio de incêndio o quartel fez bradar

Só mesmo tão louco para atear fogo
Sobre a casa sua, que da esposa é lar
Ainda mais, se com a filhinha no berço
Sua linda princesa dos contos de ninar

E levá-la consigo do quarto em chamas,
Na ânsia do reparo, ter em seus braços
Histérica bebê que pela mãe chama

Ordenei, ouvi, vi, mas não sinto eu
Realmente um milésimo do que na
Avenida Nossa Senhora aconteceu.



Esta tarde

À tarde,  iluminada de alegria
Luminosa, sente sua mocidade
Esta tarde não termina aqui, pois
Guarda o brilho cuja luz é verdade.

Rindo, mexe no cabelo, me beija
Ignora que passa o tempo. A data,
aqui,  o lugar é hoje e só por isso
Na história a velocidade empata.

O contraditório do espaço e do tempo
O embate do efêmero com o eterno
Lançado em conversas e sentimentos

Haverá um céu que guarde essas tardes
As salas onde olhos arregalados
Regalos deixam sem nenhum alarde

Apraz?

Viemos ao mundo de maneira abrupta
Ainda não tenhamos superado, talvez
Imaturos ao lidar com a estupidez
Deste mundo que a tantos tem maltratado

Aquela ideia que os outros tem de vós
Dá-vos o vazio da vaidade. Enquanto
Embalados por inveja, vosso pranto
Vai só aumentando com passar da idade

A ânsia de destacar-se na multidão
Ignora muitas vezes a moral
Desnudando em vocês a face do mal

Ainda eles podem rever seus conceitos
Dinheiro, beleza, poder, isso apraz?
É questão que aflige quem procura paz

Souvenir

O­ correto seria ter certeza de que
Não há maneira mais estranha de iludir  
Do que olhar nos olhos e a verdade dizer,
Em palavras menos doces que um souvenir

Tampouco pode ser plausível enxergar
Em plena escura noite tão claro zênite
Mais míope se torna aquele que mui inocente
Vê no gesto algo além do que ele pode dar

Embora, se avisada, a guerra não se perde
Ruirá o castelo de quem tão pouco merece
Dar com os burros n’água de tanto sonhar

As miragens na areia lhe confundem a mente
Dando à consciência a convicção de que em frente
Está terra firme onde possa caminhar.

Imperativo

Olhe bem para dentro de ti,
Tarefa hercúlea é com certeza!
Examinar o que há no centro de si
Mostrará quem sabe o caminho da justeza

Perceba teu papel em cada cenário,
O script da vida sempre a mudar!
Novela pastelão ou mesmo documentário
Assim tu vives em par ou ímpar...

Ouça já essas palavras de amigo.
Verás o quanto há de valer
O conselho sincero de ouvir o teu ser.

Lembre que, se mais distraído estiveres,
Talvez preciosas oportunidades perderás,
Até o tempo em que opção não há.

Quimbundo Marimbondo

Milhares deles como que num quilombo
Angolano, com uma macumba ruidosa.
Ruído moleque que assustou a idosa!

Ira inocente tirou da quenga o cochilo,
Maxixe zumbindo a banza com estilo.
Bateu em retirada o jimbo e sua dança,
Ouvindo o xingar de toda vizinhança

Nerônica represália não tardou às quimeras.
Da grande casa fizeram fumegante cachimbo
O bando queimando pelo samba que houvera.

Heleninha

Hoje vemos o quanto tudo irá se transformar
Enquanto nos preocupávamos com o mundo
Legados à missão cujo fim é diverso do lar
Então a vida nos intimou ao bem mais profundo

Não ocorrem por acaso esses momentos
Ainda que ás vezes Deus pareça brincar
Há muita sabedoria nos conselhos do tempo,
Assim como são infinitas as ondas do mar

Releve, Helena, se não estiver a contento
Bobagens seu padrinho é especialista em dizer
Esta é uma tentativa de eternizar o sentimento
Saudadando o nascimento deste novo ser

Antes de te fazer qualquer dengo
Rindo a toa é como eu digo
A minha afilhada será Flamengo

Urge o momento da sua chegada
Já não podemos mais esperar
O tempo de te fazer mimada

Tinderella

Tantas ali dispostas da maneira mais atraentemente singular
Indo de encontro com: sabe Deus o que! E Deus sabe...
Do que o horóscopo com seus signos não pode manipular
Enquanto não acham quem, um dia, seus corações aldrabe.
Recorrem e riem-se das repetitivas conversas de larápios,
Esperançosas de que logo uma inspiração se revela
Lento, porém, passa o tempo desses cardápios
Até que lá não estejam mais: o tinder e ela.