Em silêncio

Jamai será traduzida uma parte, ao menos
Um instante do que diz em silêncio teu olhar
Longe de tal compreensão estão pequenos,
Ilhados os homens que não sabem amar,

Andam sem na poesia de cada tropeço topar
Não vêem que o rubor da timidez no teu rosto
Afigura o fogo do sol poente á beira mar

Flor

Quando for teu costume passear no jardim
Descobrirás o perfume oriundo das flores
Para que então teu lume brilhe até o fim
Transpondo os queixumes e dissabores

Cultivarás Amor-perfeito, Saudade e Jasmim
E entre teus Lírios com a mais bela das cores
Não se destacará a dália, a acácia ou o alecrim
Mas aquela que detém a verdade em Açores

Ressaca

As ondas hoje quebram mais fortes
Sopradas pelo vento que as forma
Impedem que a embarcação aporte
À beira do porto seguro de outrora

Decerto é necessário rumar ao norte
Porque a ressaca não termina agora
E o pescador ciente dessa má sorte
Vai à solidão do oceano onde mora

O frio da noite não há ser que suporte,
O tempo lento na espera doutra aurora
Traz-lhe silêncio de sombra e de morte

Mas não busca um cais que o conforte
Só se sente em conforto se lá ancora
Pois lá o espera a paz de sua consorte