Precisa

No que acredita ser o amor?
A condição para eterna felicidade
Basilar sentimento que harmoniza
Ying-yang e a grande polaridade.

Loucura seria o contrário supor?
Legá-lo à condição de possiblidade:
A escolha labutável que se enfatiza
Diariamente e com sobriedade.

E qual o verdadeiro sabor?
Confeito que ao paladar agrade,
Açúcar ou pedra que cisa,
Salgando, a terra que invade.

Tal explanação é sem valor
Retrocede a minha ingenuidade 
Ocultada por sua prece precisa 
Clareando-me a realidade.

O que peço em meu louvor?
Saborear nossa lealdade 
'Té conhecer quem por “bisa"
a ti chamará antes da saudade.

Afã

Guarda cada dia com carinho
As longas horas de felicidade
Pois embora agora seja saudade
Haverá outro amor no caminho

Um momento de súbita ira
Fez desatar de vez nosso nó
Na agonia e afã de estar só
Rompeu o laço que, sã, unira

Se não dá para ser o que se quis
Nem continuar sendo o que se é
A ilusão desembarca e vai a pé
Em busca de um final mais feliz

Calote

Onde todo mundo é muito 
E se aglomera o glamour
A luz da bebida no intuito

De ser o anti-abajour


Onde todo mundo é demais

Mas o espaço é de menos

O mais elevado satisfaz

Quem domina o terreno 


Onde todo mundo é assaz

E cada olhar é mais sexy

Popstar com pose de rapaz

Sentado em cima de jet ski


Quem não é todo mundo 

Sem charme ou camarote

Peixe de mar mais fundo

De ostentação dá calote




Vela

Qual o preço do que queremos?
Se já possuímos, custa menos
Do que o ardido arrependimento
Acumulado em gestos pequenos.

Se é impossível, pode levar tempo
E para quem a espera é tormento
Talvez o destino por divertimento
Sugira um atalho ao menos atento.

O que escolher em tal momento?
Labutar tendo a fé como alento
Ou cortar o caminho por dentro
Seguindo a ambição do avarento

Ajustando a vela do sentimento 
Cada um vai tomar o seu vento
Porém a direção que intento 
É a de ter paz quando sonolento.





Descartável

Meu coração escreveu belas estórias
Quando composto por fino grafite
Não buscava ganhar ou estar quite
Compunha livremente sua trajetória

Submetido a pressão das escolhas 
Moldou-se com outra configuração
Já não serve como lápis à paixão 
Rasga dos seus poemas as folhas 

Hoje não ilustra a mente do amante
Nem tampouco suas caras memórias 
Com altas cotações, mas provisórias
Tornou-se um descartável diamante

Caçada

Disparei com certeira pontaria                 
e também veloz em disparada                
Salivando a presa desejada                                      
Espreitei a excitação que corria

Julguei-me o mais hábil que havia,
O indivíduo de virtude comprovada,
Então decidi que iria fixar morada
E esperando a caça me alcançaria

Xerife dentro da minha cercania
Claudiquei na missão planejada
Inocente, ao entregar a espada,
Tornei cega a lâmina que cingia.

Ao me colocar onde não devia
Comprometi o sucesso da caçada
A excitação outrora provocada
O desejo perseguir não sabia.

Ulterior

Eu conheci o amor bem precoce
Sacrificando o tempo da mocidade
Mas conforme ganha-se mais idade
Encrudesce o corpo, a pureza adoece

Reconheço que não estive desperto
Ao que meu espírito foi covarde
Lançou-se a sorte por onde arde
Desejo que queima no deserto

A experiência, a vida esclarece
É, portanto, dos erros a benesse
Revestindo-nos de maturidade

Ulterior ao amor é a verdade
Bastante clara numa prece
Insana pedindo que regresse

Japamala

Um vestido azul sanfonado
Óculos redondos dourados
O oásis da composição

Unhas brancas como neve
Patuás pra quem se atreve
Fazer dela sua inspiração

Do nada puxa uma guia
E a tatuagem quem espia
Só pode exergar um quinhão

Na verdade um japamala
Difícil de supor como a fala
Simpática que vi no vagão

Poesia é mostrar apenas
Metade de um poema
E seguir noutra direção

Desacredito

Olho para trás e desacredito
Não parece que fui onde pisei
Que andei tão livre em delito
E nesse quesito me apaixonei.

Viajo léguas enquanto medito
Acerca da sorte com que deparei
E a lei me foi boa, pois nunca aflito
Como num rito, o melhor esperei.

Nessas memórias não há conflito
Só o êxtase das noites que virei
E beijei tantos lábios bem ditos
Uns eruditos, outros não sei.

Amanhã há de ser mais bonito
Talvez aqui eu não estarei
O rei é quem manda ser finito
O espaço aflito entre o era e o hei.

Chave

Carece de explicação esse cheiro
Hipnotizante a me fazer levitar
Amparado pela loucura que beiro
Vontade estranha de querer casar.

Entretanto, muita cautela se mostra
Devido a tantas diferenças sem porquê.
O espanto e atração de figuras opostas
Condensados na expectativa de te ver.

O tempo, a quem tudo se rende,
Responderá até quando permanece
A surpresa de se sentir adolescente.

Coração blindado onde andei
Ao sentir tal aroma me disse
“Our time’s over, it’s Key!”

Invitados

Ao cair, a areia vai abalando a carcaça
Talha-a independente de credo ou raça,
E o passar dos anos a beleza embaça
Há pessoas por quem o tempo passa

Longeva saberia não se esvai com o vento
Usufrui a perenidade de um ressentimento
Perdura e se mistura para servir de alento
Mansas pessoas que passam pelo tempo

A intrigante questão começa agora
Assume você o controle da hora
E não é o relógio que te devora?

Resistindo o fruto da nossa verdade
Invitados a um lugar na eternidade
Viraremos uma lúgrube saudade.

Notívago

Mais sapeca que a Emília do sítio
Uma utopia também sem igual
Libera energia maior que a do lítio
Hipnotiza lançando olhar fatal

Equilibra-se entre a farra e o trabalho
Repondo noites sempre mal dormidas
Mescla corrida, cerveja e orvalho
Alheia agonia afaga em sua lida

Relembra rindo das dificuldades
As oportunidades a vida lhe deu
Vivendo livre de mágoa ou saudade

Imperativo instinto manhoso
Deixa notívago o peito deste poeta
À espera de outro beijo tão gostoso

Candelabro

Atrás dos seus olhos me via
Incrivelmente maior e melhor
Lua que chega cerca ao mar
Útil ao espaço onde é poesia.

Sabia porém ser só fantasia
Aquilo a além de mim se projetar
Oscilando formas diversas das minhas
Desdobradas pelos momentos de alegria.

Esplandece o ser mas não o vê 
O lume que mira o breu sem porquê 
Tal a gravidade, a curiosidade o tomba.

Irresistível como todo clichê 
Candelabro sagrado era você 
A luz no objeto; eu, sombra