Cara fechada

Cara fechada atravessando a rua
Quem vê de perto nem insinua
A intenção que teve seu pensar
Sai de casa um pouco maquiada
O que tem linda tem de desastrada
Doida pra pôr o pé na estrada
Mas tem boletos pra pagar

pra por o pé na estrada
mas tem boletos pra pagar(3x)

Charme

Minha menina tem ciúmes
Do meu jeito de falar
do sorriso que enamoro
inumerando fãs sem par

Ela sabe que esse charme
Que me é particular
Eu não faço por maldade
A mania de encantar

No pagode me perguntam
quando é que vou cantar
Se de rostinho colado
eu me importo de dançar

Isso tudo me encabula
Como é que vou negar?
O salão é meu espaço
Minha extensão do lar

Agarrado

Que bom é ficar agarrado 
com minha pretinha           
Ouvindo a panela                
que apressa sua chaminé  
Tão boa no versado          
E também na cozinha   
Foi coisa de novela         
Encontrar tal mulher        

Os doces que ela faz 
de onde tiro meu refrão
O salgado é o que contrai
e dá consistência pra canção
Mas o sabor que mais me atrai
é o que censura diz pra não...divulgar
os nossos ais
a dura vida do colchão 

Vinte e oito

Quando eu fiz vinte e oito anos
Já tinha sobrevivido deveras
E realizado tantos planos
Quantos que não pudera

Senti-me aprendendo a andar
e a não mais querer correr
Pois nenhum passo meu
Pode retardar o anoitecer

a vida, inevitável e improvável
é luz que a escuridão desvenda
nada pode fazer que ela cesse
muito menos que se extenda

Incrível é a eterna novidade
Das coisas que se repetem
mundo gira ao redor do sol
indiferente ao que acontece

Sonolento poeta

O verso vem visitar
o sonolento poeta
mas quando desperta
ele não mais está
A cadência se esconde
Entre a fronha e a coberta
Vem pela noite deserta
Pra de manhã evaporar 

ah quem me dera conter a torrente
de inspiração que se sente
Mas pelos dedos escapa
É uma luz que se apaga
Quando amanhece o dia
Como a beleza qua havia
Em quem estava a se embreagar

Quando toca faz nos sentir mais perto
Dos autores de outrora
que o tempo não ignora
A impaciência devora
o sumo de poesia
E vira só fantasia
que nos embala ao acordar

Entre o sim e o não

Se a luz esclarece e a sombra anuvia
meu sonho carece dessa sintonia
De com pulso firme encarar o dia
e com a mente livre criar fantasia

Sonhar é oscilar  
entre a realidade 
e a abstração 
Entre o sim e o não, 
quanta vontade 
de superar 
a frustração 

Quem nasceu para o bem
Se mantém mais forte
se refém 
Não carrega a dor
do mal de alguém 
vai mais além 
que o rancor

Se a luz esclarece e a sombra anuvia
meu sonho carece dessa sintonia
De com pulso firme encarar o dia
e com a mente livre criar fantasia

Barulho das ruas

O constante barulho das ruas
Não abala a paz de acordar a seu lado
Dormir com os braços entrelaçados
Dois namorados no sonho do amor

Essa tranquilidade
É tal e qual a mãe natureza
Acostumada com sua beleza
A nós deslumbra com seu esplendor

Se faz tempo bom
É samba e som, tênis e corda
Muito carinho, que amor não engorda
Nossa dieta é de luz e calor

Nessa direção
Se fecha o tempo, fecho a porta
Traz edredom e faz uma pipoca
Pra não saber se o filme acabou

Salutar

Feita na cidade maravilhosa
Esbalda-se quando é carnaval
Lavada de glitter e toda prosa
Inventa cada fantasia original

Zelosa demais em tudo que faz
Acredita no aluno a que ensina
Na certeza dele ser capaz
Instiga a mente que ilumina

Vivi para conhecer este ser
E pergunto como é que pode
Regalar-se tanto ao receber
Sol e praia, cerveja e pagode

Agora a lição que me toma
Regressar ao banco escolar
Instruído por um novo idioma

O do amor de fato salutar

A menina

A menina que conheço doutros carnavais
De girassol se fantasiou e me fez astro-rei
Em dias nublados, como não se faz mais
Conservou a poesia pela qual me apaixonei

Dentre tantos caminhos para infelicidade
Apontou como um regato entre as pedras
Riacho consistente de categórica vontade
Desaguou em mim onde ninguém pudera