Caçada

Disparei com certeira pontaria                 
e também veloz em disparada                
Salivando a presa desejada                                      
Espreitei a excitação que corria

Julguei-me o mais hábil que havia,
O indivíduo de virtude comprovada,
Então decidi que iria fixar morada
E esperando a caça me alcançaria

Xerife dentro da minha cercania
Claudiquei na missão planejada
Inocente, ao entregar a espada,
Tornei cega a lâmina que cingia.

Ao me colocar onde não devia
Comprometi o sucesso da caçada
A excitação outrora provocada
O desejo perseguir não sabia.

Ulterior

Eu conheci o amor bem precoce
Sacrificando o tempo da mocidade
Mas conforme ganha-se mais idade
Encrudesce o corpo, a pureza adoece

Reconheço que não estive desperto
Ao que meu espírito foi covarde
Lançou-se a sorte por onde arde
Desejo que queima no deserto

A experiência, a vida esclarece
É, portanto, dos erros a benesse
Revestindo-nos de maturidade

Ulterior ao amor é a verdade
Bastante clara numa prece
Insana pedindo que regresse

Japamala

Um vestido azul sanfonado
Óculos redondos dourados
O oásis da composição

Unhas brancas como neve
Patuás pra quem se atreve
Fazer dela sua inspiração

Do nada puxa uma guia
E a tatuagem quem espia
Só pode exergar um quinhão

Na verdade um japamala
Difícil de supor como a fala
Simpática que vi no vagão

Poesia é mostrar apenas
Metade de um poema
E seguir noutra direção

Desacredito

Olho para trás e desacredito
Não parece que fui onde pisei
Que andei tão livre em delito
E nesse quesito me apaixonei.

Viajo léguas enquanto medito
Acerca da sorte com que deparei
E a lei me foi boa, pois nunca aflito
Como num rito, o melhor esperei.

Nessas memórias não há conflito
Só o êxtase das noites que virei
E beijei tantos lábios bem ditos
Uns eruditos, outros não sei.

Amanhã há de ser mais bonito
Talvez aqui eu não estarei
O rei é quem manda ser finito
O espaço aflito entre o era e o hei.