Com a licença de Dumont

Perguntei a um sábio que horas eram
Ele não soube me responder de imediato
Disse-me: " Com a licença de Dumont,
Relógio de pulso já me parece insensato."

"Demiti esse que faz todos de empregado

Para que o tempo me sirva, não o contrário."
Eu já ia procurar quem soubesse o horário
Pois para essa sabedoria estava atrasado.

Vi uma bela moça com o relógio no braço

Mas passou tão depressa que não pude
perguntar-lhe nem mesmo seu nome
Tampouco diminuir meu embaraço.

Debaixo daquele mormaço, ainda ouvi:

"Esqueça a hora e vá no seu tempo."
Emburrado à voz não estive atento
Lamento, pois demorei mas aprendi

Cortiço flutuante

Conviver em ambientes cuja saída é limitada
Ocasiona certos problemas da arte de viver
Respeitar o espaço do outro não é consenso
Tanto que as desavenças começam a aparecer

Indubitável a justiça feita pela administração do barco

Concedendo tratamento condizente à postura adotada
ostensivamente pelos passageiros, que agem tal animais:
ficam quietos com o dono, mas dão entre si patadas.

Lotada a embarcação, há então diversos personagens

Uns introspectivos que se poe a observar toda gente
Tem outros que de tão bons de conversa é preciso
um olho no peixe outro no gato para não ser inocente.

Ainda com esses percausos a viagem valhe a pena

Nas horas em que o conforto se restringe e a calma
torna-se uma religiosa virtude, somos postos a
entender a importância da simplicidade da alma.

Olha já

Redescobrir-se nas entranhas do Brasil
Indo morar em sua principal veia
Oferece ao viajante tempo e paz na
Aorta amazônica que é da selva, a seiva

Manacapuru tem carapanãs e outros insetos
Além disso, pode quem fotografar onças
Zombar de quem diz ter visto anacondas
Ondulando nas águas da noite em lua

Normal é ver os botos, esses golfinhos rotos
Animando a viagem dos que não sendo daqui
Satisfeitos se rendem a rir e a aplaudir

Latitude zero

Lá onde o sol chega tão próximo
Iluminado nossas linhas imaginárias
Nota-se no úmido calor da terra
Haver o furor de histórias legendárias

Ainda que tímida desponte a luz
do sol, quado amanhece por entre
os muros da Fortaleza de São José,
Empata logo o dia com quando não é

Quem de lá se ausenta leva consigo
Uma vontade de comer açaí, que: Égua!
A saudade é daquelas que não dão trégua

Do Amazonas que é um castanho mar
O mundo chega e vai para lá
Recordando com prazer, Macapá