No véu da escuridão

Ao se por com rastro de luz
O Sol num fio de esperança
Despede-se e a noite seduz
Para noite entrar na dança

Como um negro bordado brilhante
O céu acolhe as estrelas
Ao olhar preciosas, diamantes
Estáticas centelhas

A imagem que surge é singela
Tão simples como as palavras
Que traduzem minhas estradas
A saudade que sinto dela

Ao me deparar com seu retrato
Pintado no véu da escuridão
Encarei o frio silêncio
E o silêncio do frio de meu coração

O ar e a gente

Abraçando as paredes cálidas sem arte
O vento invade os lares dessa gente
Passa por casas boas e pobres
Sopra dentre o subúrbio inocente

Deslizando por ruas sinistras
A brisa esbarra em mentes vazias
Paira nela uma ave
Voa urubu! Que alegria!

Caindo na imensa periferia
O ar penetra tranquilo
Apaga a chama do questionamento
Aceita-se o modo em que se é vivido
Uivando nas curvas dos morros
A aragem canta como samba
Lamenta o frio da noite
Chora a miséria que é bamba

Escrevendo em folha avulsa
O pseudopoeta não escapa
Compõe esta sociedade
Que bebe, não digladia e se mata

Cárcere Privado

Poderia ser diferente
Não precisar de você
Ser mais concupiscente
Não só te querer

Mas por algum motivo fico preso
Com o mais largo sorriso no rosto
De iniciativa própria me perco
No sabor de seu pescoço

Até aí tudo lindo, maravilhoso
Nenhum problema em ser irresistível
Porém demasiado penoso
É você ser irreversível

Nó indesatável de Amor
Duro amor que me acaba
Sem me deixar respirar
Sufoca e não mata

Traz agonia nos sonhos
Vêm desejos impuros
Vejo línguas e bocas
Mas logo sobem muros

Muralhas ocasionais
De distância ou tempo
Separam casais
Deixam poetas ao relento

Com impossíveis devaneios
De quem sonha com tudo
Contudo não tem
O poder no seu mundo

Nuns dias é triste
Noutros desesperador
Pois coração não livre
Sofre sem calor

Coração amarrado por motivo obscuro
Desorientado sobre qualquer futuro
Se deixa levar por sua lábia
Lábia do teu louco murmúrio

Irrefutável doçura do beijo
Convence qualquer coração
Teu melhor advogado
É um corpo violão

Ratifica a prisão
Mantêm-me enjaulado
À sombra do teu ventre
Meu cárcere privado