Vinte e oito

Quando eu fiz vinte e oito anos
Já tinha sobrevivido deveras
E realizado tantos planos
Quantos que não pudera

Senti-me aprendendo a andar
e a não mais querer correr
Pois nenhum passo meu
Pode retardar o anoitecer

a vida, inevitável e improvável
é luz que a escuridão desvenda
nada pode fazer que ela cesse
muito menos que se extenda

Incrível é a eterna novidade
Das coisas que se repetem
mundo gira ao redor do sol
indiferente ao que acontece

Sonolento poeta

O verso vem visitar
o sonolento poeta
mas quando desperta
ele não mais está
A cadência se esconde
Entre a fronha e a coberta
Vem pela noite deserta
Pra de manhã evaporar 

ah quem me dera conter a torrente
de inspiração que se sente
Mas pelos dedos escapa
É uma luz que se apaga
Quando amanhece o dia
Como a beleza qua havia
Em quem estava a se embreagar

Quando toca faz nos sentir mais perto
Dos autores de outrora
que o tempo não ignora
A impaciência devora
o sumo de poesia
E vira só fantasia
que nos embala ao acordar