Halter

Levanto pesos na academia
E, em que pese a consciência,
Cada halter altera o humor.
O suor que resta do porre
Escorre transparente no rosto,
Tem de lágrimas gosto,
Mas absorto, outro sabor.

Ao redor, redondas formas
Esculpidas pelas máquinas 
Que querem tesas, as flácidas,
E talvez, estúpidas, as sábias.
Mas com tesão, nenhum pudor.
Afinal, o corpo vivo
É mais que objeto altivo
Contemplado através do vidro.

Decora

Sou um esforço em vão,
Energia que não se aproveita,
Pão que caiu no chão,
Tempestade antes da colheita.

Carinho onde há pensamento,
Tormentosa ideia sem fim,
Cimento que não dá sustento,
Inacabada obra de mim.

Queria um desfecho
Que embelezasse por dentro
Arrematando o acabamento.

Mas, externo à mente,
Tudo que está por fora
Contradiz o que decora.

Notidivagações

Perdoe, meu amor,
Se, embebido em palavras,
Demoro para me deitar.
Destilada bebida lavra
As profundezas d'alma,
Faz pelo corpo um furor.
Que, sabido da ignorância,
Quero não mais dormir,
Preciso demais descobrir.